O trabalho da Assistente Social com Dependentes Químicos
Os Desafios dentro de uma Unidade Terapêutica
SAÚDE EMOCIONALASSISTÊNCIA SOCIALDEPENDÊNCIA QUÍMICA
Raquel Lopes
9/4/20254 min ler


Sou Raquel Lopes, Assistente Social e Terapeuta com especialização em Psicologia da Saúde, e ao longo da minha caminhada profissional tenho me deparado com a realidade intensa e desafiadora do atendimento em unidades terapêuticas para dependentes químicos.
Trabalhar nesse contexto exige mais do que técnica: é preciso sensibilidade, escuta qualificada e a capacidade de enxergar cada pessoa para além da sua dependência. O acolhimento vai além da assistência imediata — envolve compreender histórias, rupturas familiares, desigualdades sociais e, muitas vezes, dores silenciosas.


O papel do Assistente Social na unidade terapêutica
Dentro desse espaço, o Assistente Social atua como ponte entre o indivíduo, sua família e a rede de proteção social. Algumas funções fundamentais são:
Realizar escuta e acolhimento, respeitando a singularidade de cada história.
Mediar conflitos e fortalecer vínculos familiares fragilizados.
Encaminhar para políticas públicas de saúde, assistência e trabalho.
Construir planos individuais de atendimento, respeitando as possibilidades e limites de cada residente.


Desafios encontrados no cotidiano
O cenário da dependência química traz consigo muitos desafios, que vão desde a resistência do próprio indivíduo em aceitar o tratamento, até a falta de recursos das famílias e do sistema público. Alguns deles incluem:
A reinserção social e profissional após o tratamento.
O estigma e preconceito que ainda cercam o dependente químico.
A necessidade de equipes multiprofissionais preparadas e integradas.
A sobrecarga emocional dos profissionais que atuam nesse campo.
A Psicologia da Saúde como aliada
Minha especialização em Psicologia da Saúde me permite olhar para além dos sintomas, entendendo o ser humano em sua totalidade — corpo, mente e contexto social. Essa visão amplia as possibilidades de intervenção, ajudando a fortalecer a autoestima, a motivação e a reconstrução da identidade de cada pessoa em processo de recuperação.


Atuar em uma unidade terapêutica é desafiador, mas também é uma experiência transformadora. Cada pequena conquista, cada passo em direção à autonomia e à vida saudável, reforça a importância do trabalho do Serviço Social e do cuidado humanizado.
Acredito que a esperança precisa ser cultivada todos os dias. O caminho é árduo, mas possível quando se une profissionalismo, amor ao próximo e fé no potencial de mudança de cada ser humano.
E depois da clínica, como recomeçar?
Como Assistente Social e Terapeuta, com especialização em Psicologia da Saúde, sei que o momento mais delicado para quem enfrenta a dependência química é justamente o período pós-tratamento clínico. A saída da unidade terapêutica representa não apenas liberdade, mas também responsabilidade e escolhas diárias.
O desafio agora é aprender a viver sem a substância, reconstruindo a rotina e redescobrindo a si mesmo. Costumo dizer aos pacientes: “A recuperação não termina com a alta, ela começa quando você retorna para a vida lá fora.”
Recomendações importantes para quem está em recuperação:
Manter a rede de apoio
A família, quando fortalecida, é um pilar fundamental. Mas além dela, é essencial buscar grupos de apoio, como NA (Narcóticos Anônimos) ou outros espaços coletivos que oferecem partilha e fortalecimento emocional.
Evitar gatilhos e ambientes de risco
O retorno a lugares e pessoas associadas ao uso pode ser um grande fator de recaída. É preciso firmeza para se afastar de antigas práticas e coragem para construir novos vínculos.
Construir uma nova rotina
O ócio pode ser perigoso. Criar uma rotina saudável, com atividades físicas, cursos, trabalho ou voluntariado, ajuda a dar sentido e ocupar a mente.
Cuidar da saúde mental
A dependência não é apenas química, mas também emocional. Terapia, acompanhamento psicológico e práticas de autoconhecimento são ferramentas poderosas para fortalecer o equilíbrio.
Ter paciência com o processo
A recuperação é um caminho de um dia por vez. Haverá altos e baixos, mas cada vitória, por menor que pareça, é uma conquista que merece ser reconhecida.


O olhar da Psicologia da Saúde
Na minha prática, percebo como a Psicologia da Saúde contribui para que o adicto em recuperação compreenda a importância da autoconsciência, do manejo das emoções e da ressignificação de sua história. Não se trata apenas de “parar de usar”, mas de aprender a viver sem depender do uso para lidar com dores, frustrações ou alegrias.
A cada paciente, eu reforço: “Você não é a sua dependência. Você é muito mais do que isso.”
A vida em recuperação é uma oportunidade de renascimento, de reconstrução e de reencontro consigo mesmo. O caminho é desafiador, mas possível, quando há disciplina, apoio e fé na capacidade de transformação.
Como profissional, acredito que cada pessoa em recuperação carrega dentro de si a possibilidade de reescrever sua própria história. E eu sigo dedicada a acompanhar, orientar e acreditar junto, porque sei que quando a esperança se junta ao cuidado, a mudança acontece.

